quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Está tudo dito

Aqui, no Arrumadinho.
"O desemprego é uma realidade tão presente e tão próxima como nunca antes havia sentido. À minha volta há cada vez mais gente sem trabalho, ou com a cabeça no cepo, com essa nuvem preta a pairar-lhe por cima. A comunicação social portuguesa vive dias difíceis, os jornais e as revistas vendem cada vez menos, fecham publicações, eliminam-se editorias, acabam-se suplementos, despedem-se cada vez mais pessoas, não se renovam contratos. E depois não nascem projectos novos, sustentados, e que demonstrem viabilidade financeira. São cada vez menos os jornalistas no quadro das empresas, cada vez mais os desempregados e free-lancers. Acredito que por cada quatro ou cinco pessoas sem talento, há uma ou duas que são excelentes
profissionais e que perderam a oportunidade de o continuar a demonstrar. Nesta profissão, nem sempre interessa que se seja bom - esse é apenas um dos fatores que pesam na balança. Na actual conjuntura, interessa mais saber quanto é que a pessoa ganhar e quanto é que terá de receber de indemnização caso tenha de ser despedida. Depois, interessa saber se a pessoa é alinhada ou desalinhada. Se é "dos nossos" ou "dos outros". E só depois vem o talento, a criatividade, o pensar "out of the box".
O que se ignora é que são essas pessoas que dão golpes de asa, que mudam as coisas, que produzem conteúdos diferenciadores, inovadores, criativos, que interessam às pessoas, que chamam pessoas, que dão identidade às publicações. Os jornalistas gostam de justificar a crise do setor com o crescimento do online, com os gratuitos, com a proliferação de informação a toda a hora, em todo o lado. Deixámo-nos derrotar pela informação branca, achámos que é ela que as pessoas procuram, e, por isso, tentamos produzir cada vez mais informação igual à dos outros, mas mais depressa, com menos critérios, desde que seja a primeira a entrar online, desde que dê para compor uma capa, desde que dê para abrir um noticiário de rádio ou televisão, não querendo saber se essa mesma história já está queimada, esgotada. Ser criativo dá trabalho, dá muito mais trabalho do que fazer mais do mesmo. E, também por isso, os criativos, os elementos diferenciadores, os profissionais com capacidade para inovar e pensar diferente, deviam ser uma prioridade para as empresas, porque são eles que podem ir ao encontro do futuro.
Infelizmente, a balança é injusta como o caraças e quando chega a hora dos despedimentos são todos pesados pela mesma medida, a medida do salário. Ganha mais, está na linha da frente para ir embora. É assim que as coisas são hoje, e acho que é também isso que explica alguma coisa da falência da imprensa. Mas atenção, não basta pensar diferente, e fazer diferente. É preciso pensar diferente e agir em consciência, com os pés na terra, para não se entrar em loucuras editoriais que, naturalmente, vão acabar mal. Eu posso tentar reunir os maiores génios do jornalismo numa publicação, mas para isso tenho de lhes pagar uma fortuna, e, como é óbvio, não vou conseguir o retorno do investimento no imediato, nem daí a um ou dois anos. É preciso ser criativo, pensar "out of the box", mas também é essencial ser inteligente nas opções que se toma. E acho que é desse equilíbrio na forma de pensar que o sector precisa.
Este é um desabafo solidário para com todos os bons profissionais que estão no desemprego, ou que podem vir a estar, ou que estão no risco de ficar sem trabalho, apenas porque ganhavam muito, ou porque não tiveram oportunidade de mostrar o seu valor por razões financeiras. A todos, só posso dizer o que penso para mim, o que já disse a muita gente, e o que quero acreditar que é verdade: a hora dos bons chega sempre. E a vossa vai chegar, seja daqui a um mês ou a um ano. Mas vão voltar a estar lá em cima."

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