quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Esbarrei com este texto. Bem verdade...

Da Claudia, do blogue (En)Cantos e Recantos

"A minha geração (e as vindouras cada vez mais) tem um problema - no qual eu não me auto-excluo, atenção - somos uns insatisfeitos. Temos a arrogância de achar que merecemos tudo do bom e do melhor. Esta questão de vivermos insatisfeitos com o que fazemos, com o que ganhamos e com o que temos é uma coisa muito recente. Se voltarmos a cabeça um pouco e tentarmos ver o que se passava há 20/30 anos veremos que, os nossos pais, os nossos avós, raramente tinham a ambição da profissão de sonho. O importante era algo que fosse seguro, relativamente bem remunerado e que, sobretudo, fosse suficiente para sustentar as necessidades básicas de cada um. Se desse para um outro luxo tanto melhor. Hoje em dia é o contrário, parte-se do princípio que se se trabalha tem que se ter acesso a esses tais luxos, que se se tem um curso terá, obrigatoriamente, que se ter uma vida melhor. Bem sei que foi o que nos andaram a incutir estes anos todos e acredito que não tenha sido por maldade, mas fez-nos pouco resistentes ao fracasso, às adversidades, à necessidade de ir à luta, de sujar as mãos, se necessário. Fez-nos ter preconceitos relativamente a determinados trabalhos, fez-nos achar que somos melhor do que realmente somos na maioria dos casos. Se não houvesse um acesso massivo a tudo o que é luxuoso haveria muito mais gente feliz. Nova York sempre lá esteve, mas raros eram aqueles que sabiam que se tratava de uma grande metrópole. A Polinésia Francesa sempre teve água limpída e clima tropical, mas eram poucos aqueles que sabiam sequer existir um país com um nome tão articulado. O problema, porém, não é esse tal acesso ter sido liberalizado, é sim a incapacidade de olharmos sem ser imediatamente assolapados pela necessidade básica de ter que ter sob pena de definharmos de tristeza.

Sempre houve Mercedes, o meu pai sempre gostou de Mercedes, o meu pai nunca teve um Mercedes, o meu pai não é menos feliz por nunca ter tido um Mercedes. A minha mãe não ama aquilo que faz, a minha mãe às vezes detesta aquilo que faz, a minha mãe sabe que poderia arriscar mas não teria ninguém pronto a sustentar-lhe a queda e como foi educada no lema "
faz a tua cama e deita-te nela" não vive obcecada com a necessidade de realização profissional. E como a minha mãe e o meu pai, milhares de pessoas neste Portugal sabem que é assim o dia-a-dia. De horas boas e horas más, mas que as contas não se compadecem com depressões assolapadas e inseguranças emocionais fruto de um patrão mais antipático ou de um horário mais exigente.

Depois, se tivermos o cuidado de analisar a maioria destes discursos derrotistas, vemos que estes são típicos de "gente de cidade grande". Gente que sempre teve tudo ali à mão e não sabe o que é ter que andar duas horas de autocarro com seis anos (sem pai nem mãe ao lado) para chegar à escola, onde arranjar um médico especialista é um desejo bem mais profundo do que ir conhecer Paris, onde chover é muito mais do que calçar as sandálias de plataforma ou as galochas de marca, mas que define se se vai ter que comer durante o ano ou não. Porque por lá nunca houve facilidades e por isso nunca se achou que a vida é uma coisa fácil e que corre sempre tudo bem. Se cada um se dignasse a ser feliz com aquilo que consegue ter, se olhasse menos para a galinha da vizinha e se concentrasse a fazer o seu mundo mais sorridente seria tão mais fácil viver o dia a dia sem recurso a discursos de auto-comiseração por motivos tão triviais."

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