quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Périplo pelas empresas em Portugal #3

O Rolls-Royce das máquinas fotográficas

A principal fábrica da Leica, embora quase ninguém saiba, situa-se em Famalicão. Indissociável da casa-mãe, na Alemanha, aqui alia-se o saber alemão e o saber fazer português. Em termos de óptica são os melhores do Mundo. Concorrência? “Só uma volta ao Mundo” diz o administrador, Carlos Mira.




Uma fábrica que começou apenas com cinco trabalhadores, em 1973, conta hoje com cerca de 650 e não parece ficar por aqui. Prova do sucesso é o facto de a Leica ter sobrevivido a um lay-off em 2009 conseguindo, no entanto, erguer-se, manter os seus trabalhadores e, dois anos depois, está a construir novas instalações.

Actualmente, a Leica manufactura máquinas fotográficas e binóculos, na sua quase totalidade, distinguindo-se, segundo o seu administrador, Carlos Mira pelo ”rigor, precisão e solidez”.

É verdade que as máquinas fotográficas da Leica são extremamente caras, não adaptáveis a qualquer bolso, mas rapidamente se entende essa excentricidade quando se experimenta uma. Não se ficando apenas pela sua beleza estética irrepreensível, fazendo lembrar máquinas antigas, basta um click para ficar rendido a uma Leica.

A fotografia é de uma qualidade esplêndida, captando a luz, o brilho, cada pormenor com uma perfeição que é difícil encontrar num produto idêntico. Daí a resposta rápida de Carlos Mira quando questionado sobre a máquina Leica e o que a distingue de todas as outras: “Fazendo fotografia, vendo o resultado. Nós movimentamo-nos no chamado Premium. Se olharmos para a pirâmide, nós estamos lá em cima: são as casas de luxo, os Porsches, é nesse mercado que trabalhamos.”




Não descurando os binóculos da Leica, 100% fabricados em Portugal, estes também têm o seu monopólio. O facto de terem a melhor mira telescópica do Mundo é prova disso mesmo. Dirigidos, principalmente, a caçadores e amantes da natureza, têm como principal cliente o mercado americano.

A opção pela Leica, cujos clientes têm uma média de idades que ronda os cinquenta e poucos anos, advém, não só da razão, mas também da emoção. “Normalmente, uma Leica herda-se. Temos muitos clientes Leica que têm máquinas antigas, porque alguém na família tinha e passou para ele. Isto passa-se de geração para geração”, conta Carlos Mira. A marca é a única no mundo que ainda fabrica máquinas fotográficas analógicas.

Relativamente a concorrência, não é algo que afecte a Leica, simplesmente, porque não a tem. “Nós não consideramos os outros produtos similares concorrência. Porque o nosso cliente só entra numa loja para comprar o nosso produto, não se deixando influenciar por um vendedor que o tente convencer a comprar outro. Nós temos poucos clientes, mas bons. Concorrência é quando há dois produtos que têm preço e qualidade idênticos, o que não é o nosso caso”, confidencia Carlos Mira. Tudo porque os produtos da Leica se dirigem a um público mais elitista, sendo considerada uma marca de luxo e contando com clientes como Karl Lagerfeld, Seal, Bryan Adams e muitos fotógrafos brilhantes, como Cartier Bresson que imortalizaram várias fotografias famosas, através de uma Leica.




A casa-mãe

No que concerne à sua forte ligação à casa-mãe na Alemanha, Carlos Mira é peremptório. “No fundo, é a tecnologia alemã feita por técnicos portugueses. Estamos longe, mas não funcionamos separados até porque eles são o nosso único cliente e são um dos nossos maiores fornecedores em termos de know-how.” Sendo assim, a Leica de Famalicão acaba por ser, tal como classifica o administrador, uma secção da casa-mãe a 2500 Km de distância.

Uma das coisas em que a Leica aposta e que se vê pela qualidade, perfeição e distinção dos produtos da marca é a manufactura e o controlo contínuo de cada peça. “Há uma forte componente humana e um perfeccionismo em cada peça. Há muita manufactura e nada de produção em massa. É também nesse aspecto que Portugal e Alemanha estão em sintonia porque este é um tipo de indústria que, sem formação, não é possível. O ano passado fizemos 18 mil horas de formação, algumas até na Alemanha. A pessoa tem que saber o que está a fazer. Tem que saber onde está, que tipo de empresa é, que marca é que está a representar, tudo isso é formação”, diz Carlos Mira.

A fábrica nova, uma aposta da Alemanha em Portugal irá cumprir todas as normas ambientais e de segurança. “Vamos oferecer melhores condições aos trabalhadores, aumentar os parâmetros de qualidade, vamos ter uma “clean room”. Vamos fazer uma fábrica moderna. E, automaticamente, vamos ter mais segurança. Na questão do meio ambiente, podemos já fazer aquilo que queremos, de raiz”, acrescenta o administrador.

Onde encontrar Leica?

Uma Leica, para além de ser única em termos de qualidade, também não se vende em todo o lado. Daí ter sido criado um conceito novo, a Leica Store. “Chegámos à conclusão de que não podemos ter o nosso produto misturado com outros sem haver uma explicação. Estamos a falar de produtos caros, as pessoas quando vão gastar tanto dinheiro, querem perguntas e respostas. Se tivermos os nossos produtos numa loja normal ou têm lá alguém que saiba explicar, ou o insucesso já está previsto”, garante Carlos Mira. Em Portugal, existe esse conceito, mas em menores dimensões, a chamada Leica Boutique, situada em Lisboa.


Dezembro de 2011, in Portugal Inovador, do Jornal Público

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